Hierarquia de Geossistemas (Parte 2) - Unidades Zonais, Azonais e Derivadas

Quando falamos de geossistema no Brasil, logo lembramos do modelo de unidades naturais que o francês Georges Bertrand publicou em 1968: Zona, Domínio, Região Natural, Geossistema, Geofácies, Geótopo, representando uma hierarquia de unidades naturais com dimensões descrescentes, respectivamente. Assim, as Zonas são maiores (ex.: Zona Tropical) e cada uma delas contém uma sorte de Domínios e, cada um destes contém uma gama de Regiões Naturais e assim por diante.

Em 1978, Bertrand revoga este sistema de unidades naturais em favor daquele proposto por Sochava (Sobre isso VEJA AQUI).

Neste post apresentamos a hierarquia das unidades naturais do modelo russo-soviético. Este modelo foi iniciado por Dokuchaev e aprimorado sucessivamente por outros autores como Berg, Ramenski, Solntsev e Isachenko.

Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2004) fazem menção a estas unidades em seu livro Geocologia das Paisagens (Cf. p.72). Em outras oportunidades também apresentamos com certo detalhe estas unidades (Cf. CAVALCANTI, 2010; 2013), cuja descrição reproduziremos a seguir.

Seguindo a tradição de Dokuchaev, as paisagens naturais são vistas como resultado da ação de fatores cósmicos (movimentos orbitais) e atmosféricos (clima). Ao mesmo tempo, também influenciam fatores de ordem geológica e geomorfológica.

Considerando isto, Isachenko (1973; 1991) defende que as paisagens de dimensões regionais e planetárias podem ser identificadas a partir dos seguintes passos: 

1. Diferenciação de áreas com base em elementos cósmicos e atmosféricos (radiação solar global, precipitação, índice de umidade, índice de continetalidade, etc.);

2. Diferenciação de áreas com base em elementos geológicos e geomorfológicos (morfoestruturas de várias ordens);

3. Cruzamento das Unidades definidas nos passos 1 e 2.

Observação 1: as unidades do passo 1, foram chamadas por Isachenko de Zonais, porque geralmente apresentam um padrão associado à distribuição latitudinal, sobretudo em função do regime de radiação solar e da circulação atmosférica global. De outro modo, as unidades do passo 2, são chamadas de Azonais, pois seu padrão independe da influência cósmica-atmosférica, estando relacionadas à tectônica, denudação e sedimentação. Por fim, as unidades do passo 3 são denominadas de 'Unidades Derivadas', por motivos óbvios.

Observação 2: o processo de identificação e classificação das unidades zonais, azonais e derivadas, foi chamado por Isachenko de "Regionalização Físico-Geográfica".

Observação 3: as unidades derivadas contemplam apenas os geossistemas de dimensões regionais. Aqueles de dimensões locais são definidos por outros critérios.

UNIDADES RECONHECIDAS
A unidade maior, ou geossistema planetário, é denominada de epigeosfera (Cf. Aqui).

As seguintes unidades zonais são identificadas: Zona (lato sensu) e Subzona (lato sensu), Setor (lato sensu) e Subsetor (lato sensu).

As unidades azonais são as seguintes: Continente, Subcontinente, País, Domínio e Subdomínio.

As unidades derivadas são: Zona (stricto sensu), Subzona (stricto sensu), Setor (stricto sensu), Subsetor (stricto sensu), Província, Subprovíncia, Distrito e Subdistrito.

Por fim, as seguintes unidades locais são reconhecidas: Paisagem, Localidade, Trato, Subtrato e Fácies.

SISTEMA TAXONÔMICO
O Sistema Taxonômico de Unidades foi proposto por Isachenko em 1966 e é determinado da seguinte forma:

O cruzamento entre uma Zona (lato sensu) e um País Físico-Geográfico resulta na indicação de uma Zona (stricto sensu). Por exemplo a Zona da Taiga, cruzada com o País Físico-Geográfico da Planície Russa resulta a seguinte Zona (stricto sensu): Taiga da Planície Russa. Não é difícil entender. Na verdae é bem lógico, a paisagem ão é composta apenas de elementos bióticos influenciados pelo clima (biomas), mas é também o produto da geomorfologia e geologia.

Figura 1. Sistema Taxonômico de Unidades Simplificado.
Fonte: adaptado de Isachenko (1973, p.249 e; 1991, p.301).

Ocasionalmente, poderia ser necessário um esquema incluindo os subomínios, subdistritos e distritos (fig. 2):

Figura 2. Sistema Taxonômico de Unidades Expandido.
Fonte: baseado em Isachenko (1991, cf. texto da p.303).


Por fim, a figura 3 apresenta um exemplo para o semiárido brasileiro, construído na minha dissertação de mestrado:
Figura 3. Taxonomia de Geossistemas Regionais para uma porção do Semiárido Alagoano.
Fonte: adaptado de Cavalcanti, 2010.

As setas indicam os cruzamentos que deram resultaram na identificação das unidades derivadas (geossistemas regionais). As linhas pontilhadas indicam a subordinação hierárquica das unidades zonais e azonais e derivadas.

Nas postagens seguintes iremos descrever cada uma das unidades taxonômicas e os procedimentos para a sua identificação.

Referências
BEROUTCHACHVILI, N.L. e BERTRAND, G.. Le Géosystème ou Système territorial naturel. Revue Géographique des Pyrénés et du sud-ouest. Toulose. 1978. p. 167-180.

BERTRAND, G. Paysage et géographie physique globale: esquisse méthodologique. Revue géographique des Pyrénées et sud-ouest, v. 39, fasc. 3, 1968. p. 249-272.

CAVALCANTI, L. C. S. Da Descrição de Áreas à Teoria dos Geossistemas: uma Abordagem Epistemológica sobre Sínteses Naturalistas. Tese (Doutorado em Geografia). Recife: UFPE. 2013. 217p.

CAVALCANTI, L. C. S. Geossistemas do Estado de Alagoas: uma contribuição aos estudos da natureza em geografia. Dissertação (Mestrado em Geografia). Recife: UFPE. 2010. 132p.

ISACHENKO, A.G. Ciência da Paisagem e Regionalização Físico-Geográfica. Moscou: Vyshaya Shkola. 1991. 370p. Em russo.

ISACHENKO, A.G. Principles of Landscape Science and Physical Geographic Regionalization. Melbourne. 1973. 311p.

RODRIGUEZ, J.M.M.; SILVA, E.V.; CAVALCANTI, A.P.B. Geoecologia das paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. 2.ed. Fortaleza: Edições UFC. 2004. 222p.

Comentários

  1. Obrigado professor por compartilhar o conhecimento da ciência da paisagem aos interessados no tema.

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